Ensino Híbrido: uma Inovação Disruptiva?
Uma introdução à teoria dos híbridos

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May 21, 2013

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por Clayton M. Christensen, Michael B. Horn, e Heather Staker
traduzido para o Português por Fundação Lemann e Instituto Península

Maio 2013

SUMÁRIO EXECUTIVO

O Clayton Christensen Institute, anteriormente chamado Innosight Institute, publicou três artigos acadêmicos descrevendo o surgimento do ensino híbrido — isto é, programas de educação formal que combinam o ensino online com escolas tradicionais. Este artigo, o quarto de sua série, é o primeiro a analisar o ensino híbrido pela lente da teoria da inovação disruptiva para ajudar as pessoas a preverem e se planejarem para os efeitos prováveis do ensino híbrido nas salas de aula de hoje e nas escolas de amanhã. O artigo inclui as seguintes seções:

Introdução à inovação sustentada e disruptiva
Há dois tipos básicos de inovação —sustentada e disruptiva — que seguem diferentes trajetórias e levam a diferentes resultados. Inovações sustentadas ajudam organizações líderes ou inovadoras a criarem melhores produtos ou serviços que frequentemente podem ser vendidos com maiores lucros a seus melhores clientes. Elas servem aos consumidores existentes de acordo com a definição original de desempenho — ou seja, de acordo com o modo como o mercado historicamente definiu o que é bom. Um engano comum a respeito da teoria da inovação disruptiva é o de que as inovações disruptivas são boas, enquanto as inovações sustentadas são ruins. Isto é falso.

As inovações sustentadas são vitais para um setor saudável e robusto, na medida em que as organizações se esforçam para fazer melhores produtos e oferecer melhores serviços para seus melhores clientes. As inovações disruptivas, por sua vez, não procuram trazer produtos melhores para clientes existentes em mercados estabelecidos. Em vez disso, elas oferecem uma nova definição do que é bom — assumindo normalmente a forma de produtos mais simples, mais convenientes e mais baratos que atraem clientes novos ou menos exigentes. Com o tempo, elas se aperfeiçoam o suficiente para que possam atender às necessidades de clientes mais exigentes, transformando um setor. Há exemplos neste artigo de várias indústrias, demonstrando os padrões clássicos dos dois tipos de inovação.

Teoria dos híbridos
As indústrias frequentemente experimentam um estágio híbrido quando estão em meio a uma transformação disruptiva. Um híbrido é uma combinação da nova tecnologia disruptiva com a antiga tecnologia, e representa uma inovação sustentada em relação à tecnologia anterior. Por exemplo, a indústria automobilística desenvolveu vários carros híbridos ao longo de sua transição dos motores movidos a gasolina para fontes alternativas de energia. As empresas líderes querem as virtudes de ambos, então desenvolveram uma inovação sustentada— carros híbridos que usam tanto a gasolina quanto a energia elétrica. Outros setores — incluindo os de escavação, embarcações a vapor, fotografia, varejo e serviços bancários — experimentaram um estágio híbrido em seu caminho para aplicar a disrupção pura.

As indústrias criam os híbridos por razões previsíveis, como o fato de o modelo de negócio das tecnologias puramente disruptivas não ser atrativo para empresas líderes logo no início, enquanto que implementar um híbrido como inovação sustentada permite que as organizações inovadoras satisfaçam melhor seus clientes.

Como identificar um híbrido
Inovações híbridas seguem um padrão distinto. Há quatro características de um híbrido:

  1. Ele apresenta tanto a nova quanto a antiga tecnologia, enquanto uma inovação puramente disruptiva não oferece a tecnologia anterior em sua forma plena.
  2. Ele busca atender aos clientes já existentes, em vez dos não-consumidores — ou seja, aqueles para os quais a alternativa ao uso da nova tecnologia seria não utilizar nada.
  3. Ele procura ocupar o espaço da tecnologia pré-existente. Como resultado, a obrigação de se atingir um desempenho que supere as expectativas dos clientes existentes é bastante alta, uma vez que o híbrido precisa realizar o trabalho pelo menos tão bem quanto o próprio produto anterior, se analisado pela definição original de desempenho. Por outro lado, as empresas bem-sucedidas na implementação de inovações disruptivas geralmente assumem as capacidades da nova tecnologia como um dado e procuram mercados que aceitem a nova definição sobre o que é bom.
  4. Seu uso tende a ser mais simples que o de uma inovação disruptiva. Ele não reduz significativamente o nível de renda e/ou conhecimento necessários para comprá-lo e operá-lo.

Uma característica importante é que, em mercados onde não há não-consumidores, uma solução híbrida é a única opção viável para uma nova tecnologia cujo desempenho é inferior à tecnologia anterior, de acordo com a definição original de desempenho. Isto significa que as inovações híbridas tendem a dominar em mercados de consumo pleno, em vez das disrupções puras. Hybrid Zone (1),jpg

Modelos híbridos de ensino
Em muitas escolas, o ensino híbrido está emergindo como uma inovação sustentada em relação à sala de aula tradicional. Esta forma híbrida é uma tentativa de oferecer “o melhor de dois mundos” — isto é, as vantagens da educação online combinadas com todos os benefícios da sala de aula tradicional. Por outro lado, outros modelos de ensino híbrido parecem ser disruptivos em relação às salas de aula tradicionais. Eles não incluem a sala de aula tradicional em sua forma plena; eles frequentemente têm seu início entre não-consumidores; eles oferecem benefícios de acordo com uma nova definição do que é bom; e eles tendem a ser mais difíceis para adotar e operar.

Nos termos da recém-criada nomenclatura do ensino híbrido, os modelos de Rotação por Estações, Laboratório Rotacional e Sala de Aula Invertida seguem o modelo de inovações híbridas sustentadas. Eles incorporam as principais características tanto da sala de aula tradicional quanto do ensino online. Os modelos Flex, A La Carte, Virtual Enriquecido e de Rotação Individual, por outro lado, estão se desenvolvendo de modo mais disruptivo em relação ao sistema tradicional.

O próximo passo do ensino híbrido
Os modelos de ensino híbrido que seguem o padrão dos híbridos estão numa trajetória sustentada em relação à sala de aula tradicional. Eles estão montados de modo a construir sobre o sistema industrial de salas de aula e oferecer melhorias sustentadas em relação a ele, mas não a romper com ele. Os modelos mais disruptivos, no entanto, estão posicionados de modo a transformar o sistema de salas de aula e tornarem-se os motores da mudança no longo prazo, particularmente no nível secundário. Qualquer variedade de ensino híbrido deve se tornar obsoleta conforme a disrupção pura se torna suficientemente boa.

Quando isto ocorrer, o papel fundamental das escolas tradicionais vai se alterar dramaticamente. As escolas irão focar mais, por exemplo, em oferecer instalações bem cuidadas e com um grande suporte presencial, refeições de alta qualidade e uma variedade de programas atléticos, musicais e artísticos para que os estudantes queiram estar ali, além de alavancar o uso educacional da Internet.

Embora as salas de aula tradicionais e híbridas estejam à beira da disrupção, não vemos as escolas tradicionais tornando-se obsoletas no futuro próximo. Isto porque, embora muitas áreas de não-consumo existam no nível da sala de aula — particularmente nas escolas secundárias norte-americanas, que envolvem a segunda etapa do Ensino Fundamental — muito pouco — não-consumo ainda é no nível das escolas nos Estados Unidos. Quase todos os estudantes têm acesso a algum tipo de escola mantida pelo governo. Prevemos que as escolas híbridas, que combinam as escolas existentes com novos modelos de sala de aula, serão o modelo dominante de educação do futuro nos Estados Unidos. Dentro das das escolas de Ensino Fundamental, no entanto, os modelos disruptivos de ensino híbrido substituirão substancialmente as salas de aula tradicionais no longo prazo. No artigo, concluímos que os modelos que são mais disruptivos — Flex, A La Carte, Virtual Enriquecido e Rotação Individual — estão posicionados para transformar o modelo de sala de aula e tornarem-se os motores da mudança no longo prazo paras as das escolas de Ensino Fundamental, mas provavelmente não para o primeiro ciclo do Ensino Fundamental.

Implicações para líderes educacionais
Líderes educacionais podem usar a lente da inovação disruptiva para prever os efeitos de seus esforços. Estratégias que sustentem o modelo tradicional poderiam beneficiar os estudantes pelos próximos anos. Este caminho é o melhor para a maioria dos professores de sala de aula, líderes escolares que têm controle limitado sobre o orçamento ou arquitetura de suas escolas, e aqueles que querem trazer melhorias às salas de aula onde a maioria dos estudantes de hoje recebem sua educação formal. Outras estratégias que aceleram a implantação dos modelos disruptivos de ensino híbrido terão um maior impacto na substituição das salas de aula por um modelo centrado no aluno. Este caminho é viável para os diretores de escolas — frequentemente em escolas privadas, mas também em distritos escolares públicos, especialmente naqueles que passaram aos modelos de portfólio — que possuem alguma autonomia em relação a seu orçamento e à arquitetura de sua escola. Além disto, líderes distritais com autoridade para contratar fornecedores de tecnologia, formuladores de políticas públicas, filantropos e empreendedores estão em posição de desempenhar um papel no fomento à inovação disruptiva.

Líderes educacionais podem alimentar a inovação disruptiva de vários modos, incluindo seguir estes cinco passos:

  1. Criar uma equipe na escola que seja autônoma em relação a todos os aspectos da sala de aula tradicional.
  2. Focar os modelos disruptivos de ensino híbrido inicialmente nas áreas de não-consumo.
  3. Quando estiverem prontos para expandir para além das áreas de não-consumo, procurar por alunos com menores exigências de desempenho.
  4. Se comprometer em persistir no recente projeto disruptivo.
  5. Introduzir políticas de incentivo à inovação.

No longo prazo, os modelos disruptivos de ensino híbrido se tornarão bons o bastante para atrair estudantes tradicionais do sistema existente para o modelo disruptivo nas escolas de Ensino Fundamental norte-americanas. Eles apresentam novos benefícios — ou propostas de valor — com foco na: individualização; acesso universal e equidade; e produtividade. Ao longo do tempo, conforme os modelos disruptivos de ensino híbrido se aperfeiçoam, as novas propostas de valor serão poderosas o suficiente para prevalecer sobre aquelas das salas de aula tradicionais.

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Michael is a co-founder and distinguished fellow at the Clayton Christensen Institute. He currently serves as Chairman of the Clayton Christensen Institute and works as a senior strategist at Guild Education.

Heather Staker is an adjunct fellow at the Christensen Institute, specializing in K–12 student-centered teaching and blended learning. She is the co-author of "Blended" and "The Blended Workbook." She is the founder and president of Ready to Blend, and has authored six BloomBoard micro-credentials for the “Foundations of Blended Learning” educator micro-endorsement.